Imigração
Imigração
- Publicado em: 20/05/2024 às 00:00 | Imprimir
Processo migratório e o povoamento
Para compreender melhor a colonização e a imigração temos que analisar o momento histórico vivido na Itália e no Brasil. Em 1870, após 50 anos de luta, a Itália se unifica e as formas feudais são substituídas pelo capitalismo industrial. Em 1855 o governo institui altos impostos, endividando os pobres que perderam as terras para o governo ou para os proprietários maiores, também chamados ‘senhores’. Além disso, a substituição do artesanato pela produção industrial gerava desemprego. O excesso de população aliado à doenças endêmicas e ao horror à guerra e ao serviço militar, deixaram o povo italiano sem perspectivas de melhorar sua própria qualidade de vida. A solução encontrada na época para uma vida mais digna era emigrar.
Havia de um lado um processo econômico que induzia à industrialização e, de outro, a preservação de estruturas latifundiárias. Nesse contexto, o excesso de população foi rapidamente transformado em algo negociável. Os imigrantes eram, em certo nível, uma mercadoria, e a propaganda para atraí-los foi bastante enganosa.
Essas transformações políticas e econômicas resultaram em tensões sociais internas na disputa pela terra. As massas populares italianas encontravam-se condenadas à miséria e à fome.
‘Na América
Terras no Brasil para os italianos.
Navios em partida todas as semanas do Porto de Gênova.
Venham construir os seus sonhos com a família.
Um país de oportunidade. Clima tropical e abundância.
Riquezas minerais. No Brasil poderão ter o seu castelo.
O governo dá terras e utensílios a todos.’
Panfleto que os Agentes de Propaganda utilizavam para promover a emigração na Itália.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Bento Gonçalves/ panfleto da historiadora Assunta De Paris
Regiões de procedência dos primeiros imigrantes
Regiões de emigração na Itália para a região de colonização italiana
no nordeste do Rio Grande do Sul, em ordem descendente.
Fonte: Arquivo Histórico Municipal
As regiões do Norte da Itália geraram emigrações para a região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, especificamente para Bento Gonçalves de acordo com a proporção a seguir, de onde se pode concluir que a grande maioria dos imigrantes chegados a partir de 1875 é de proveniência vêneto-lombardo-trentino-friulana.
Vêneto: 54% – Províncias de Beluno, Pádua, Rovigo, Treviso, Veneza, Verona e Vicenza
Lombardia: 33% – Províncias de Bérgamo, Brécia, Cremona, Mântua, Milão, Pávia
Trento: 7% – Províncias de Alto Adige, Bolzano e Trento
Friuli (ou Venecia Julia): 4,5% – Províncias de Trieste, Udine e Pordenone
Em menor escala:
Piemonte : Alessandria, Navara e Vercelli
Emilia-Romanha: Ferrara, Modena, Parma e Piacencia
Toscana: Livorno, Lucca, Carrara e Pisa
Liguria: Gênova e La Spezia
Os motivos da imigração
No final do século XIX, enquanto havia excedentes de população na Europa, o Brasil adaptou-se aos interesses do capitalismo modificando sua política de mão-de-obra e de terras. A maior parte do território brasileiro estava desabitado e sofria com a carência de mão-de-obra livre. Com o processo imigratório, o Brasil teria seus problemas resolvidos pela substituição da mão-de-obra escrava na lavoura e pelo povoamento de áreas desocupadas, com ênfase ao desenvolvimento agrícola das regiões do sul do Brasil.
O território do Rio Grande do Sul ficou definido após três séculos e meio da chegada dos portugueses e espanhóis. Pela ausência de recursos naturais do antigo sistema colonial, o Rio Grande do Sul ficou meio século isolado dos interesses tanto de Portugal quanto da Espanha.
Os jesuítas tiveram fundamental importância no desenvolvimento do Rio Grande do Sul. O comércio na região do Prata beneficiou as nações européias, enquanto que a pecuária e a extração da erva-mate foram decisivas no processo de povoamento.
Até 1870 Bento Gonçalves chamava-se Cruzinha. Neste ano o Governo da Província, desejando ampliar a área de colonização, por ‘acto’ de 25/05/1870 assinado por João Sertório, então Presidente (hoje corresponde ao cargo de governador) do Estado do Rio Grande do Sul, criou a colônia de Dona Isabel, a qual contava com a abrangência de 32 léguas quadradas.
Ao chegarem à colônia os imigrantes eram recebidos por uma Comissão de Terras que deixava muito a desejar. Os imigrantes eram alojados em barracões e se alimentavam de caça, pesca, frutos silvestres e do pouco que era fornecido pelo governo até se instalarem em seus lotes rurais. Ao se instalarem, iniciavam uma agricultura de subsistência representada pelo cultivo de milho, trigo e videira.
As primeiras indústrias artesanais, com características domésticas e utilização somente de mão-de-obra familiar, assim como o comércio de troca e venda de produtos, surgiram com a produção de excedentes agrícolas e com a criação de animais. A troca, compra e venda de produtos era feita na sede da colônia, após longas caminhadas por estreitas picadas (trilhas abertas na mata), demarcadas pelos próprios imigrantes.
Os primeiros imigrantes oriundos do norte da Itália chegaram a Bento Gonçalves, então colônia Dona Isabel, no dia 24 de dezembro de 1875. Ocuparam uma esplanada onde hoje localiza-se a Igreja Cristo Rei (Bairro Cidade Alta), onde ficaram aguardando a distribuição das terras.
Os primeiros passos do progresso
Prédio Arthur Renner – Depósito de cereiais e venda de produtos coloniais (1924).
Foto: Dall’Olmo – Acervo: Museu do Imigrante
Em 1881 é iniciada a abertura da primeira estrada de rodagem, chamada Buarque de Macedo, ligando as colônias Dona Isabel (Bento Gonçalves), Conde D’ Eu (Garibaldi), e Alfredo Chaves (Veranópolis). É a mais antiga via do Rio Grande do Sul a ligar Montenegro até o Estado de Santa Catarina. A via RST 470 passa a denominar-se BR 470 em março de 2015.
A colônia Dona Isabel foi desmembrada da então colônia de São João de Montenegro através do Ato nº 474, de 11/10/1890 pelo Governador do Estado General Cândido Costa, com a denominação de Bento Gonçalves em homenagem ao General Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha (que durou de 1835 a 1845) e Presidente da República do Piratini, hoje Estado do Rio Grande do Sul.
O primeiro prefeito, na época chamado de Intendente, foi o Coronel Antônio Joaquim Marques de Carvalho Júnior, que permaneceu no poder durante 32 anos.
Em 1919 foi inaugurada a linha férrea ligando a capital Porto Alegre a Bento Gonçalves e trazendo impulso ao progresso da região. Em 1922 foi instalada a luz elétrica. Em 1927 foi inaugurado o primeiro hospital. A rua Marechal Deodoro foi a primeira via pública a ser calçada no ano de 1940. A rádio difusora ZYQ 5 foi a primeira emissora de rádio a ser fundada em 15 de novembro de 1947.
Em 1925 foi comemorado o Cinquentenário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul. Nesta época a principal economia do município era baseada em produtos suínos e o segundo produto mais representativo era o vinho. A população do município era atendida por 248 estabelecimentos comerciais. As ferrarias e selarias eram substituídas pela mão-de-obra e os famosos ‘fordecos’ (carros da linha Ford) já transitavam pelas ruas.
Estação Férrea em Bento Gonçalves. Chegada do Dr. Bartholomeu Tacchini após uma viagem à Itália (aproximadamente 1930).
Foto: Camillo Pasquetti – Acervo: Museu do Imigrante
Progresso e Desenvolvimento Econômico
Em 1940 a agricultura vai sendo substituída pela indústria, que aos poucos diversifica sua produção, gerando mais empregos. A industrialização atrai novos contingentes de trabalhadores, migrantes de outros municípios da região. Aumenta a circulação de dinheiro e mudam os hábitos e costumes dos moradores, assim como o poder de consumo. São instaladas as primeiras casas bancárias: o Banco de Pelotas e o Banco Nacional do Comércio.
No início da década de 1950 o município de Bento Gonçalves apresentava uma população de 23.340 habitantes, sendo que 6.280 pertenciam à zona urbana e 17.060 à zona rural e suburbana. Na economia, destacava-se o setor agrícola – principalmente a produção vitivinícola – além da agricultura de subsistência.
Em 1955 Bento Gonçalves iniciou a fabricação de móveis em estilo artesanal. Nos anos 60 a Indústria de Acordeões Todeschini, a maior da América Latina, exportava acordeões e escaletas instrumento musical) para o México.
Em 1967 o vinho dá um impulso ao desenvolvimento econômico de Bento Gonçalves com o surgimento da Festa Nacional do Vinho (Fenavinho).
Fonte: Arquivo Histórico Municipal
Em 1970 surgem muitas indústrias moveleiras que caracterizam até hoje a cidade de Bento Gonçalves como um dos maiores pólos moveleiros no sul do Brasil.
O local onde foi realizada a primeira Fenavinho é hoje o Parque de Eventos de Bento Gonçalves, onde se realizam de forma permanente as grandes feiras e eventos no município.
Arquivo Histórico Municipal de Bento Gonçalves